quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A Função dos Sonhos em Invisible Man

Jean-Paul Sartre, em L’Imaginaire, define a consciência imaginária como sendo objecto da consciência real. Dando como exemplo o fugitivo que corre durante o sonho diz:

‘A partir du moment où un moi imaginaire est <>, toute change: ce moi tient à ma conscience par un rapport d’émanation. Je ne vois pas seulement l’esclave qui fuit, mais je me sens cet esclave. Et je ne me sens point lui,dans l’intimité de ma conscience, comme je puis me sentir, dans l’état de veille, le même qu’hier etc (...) Il est donc, en un sens, transcendent et extérieur puisque je le vois encore courir, et un autre, transcendent sans distance puisque je suis irréellement présent en lui (...) Il reste donc, en un sens, monde purement réprésenté et, en un autre, monde vécu immédiatement. Il y gagne une sorte de présence sourde et sans distance par rapport à ma conscience.’

O sonho revela um nível outro da realidade, possibilitando a percepção daquilo que se furta à consciência real. A revelação da realidade quando tem efeitos concretos na vida desperta é tida como premonição.
Se relativamente ao sonho, a separação entre o eu que sonha e o eu representado, não só levanta a questão de uma impossibilidade física na vida desperta, como realiza a interligação entre o que se passa fora e o que se passa dentro do sonho. A própria consciência que se apercebe da irrealidade na experiência do sonho actua sobre o seu objecto, manipulando o conteúdo do sonho, do mesmo modo que a consciência imaginária ludibria a consciência real, simulando mundos que transcendem as inibições, e o controlo exercido pela razão. Na distinção entre o sonho, a ilusão, as alucinações e a rêverie, sobressaem respectivamente a dialéctica entre interior e exterior, situações de privação de percepções sensoriais, e o material onírico do sonhador.
Sobre o mundo das percepções, Sartre salienta as reacções fisiológicas dos sentidos ligadas às formas, dizendo: “certains formes nous inposent des mouvements oculaire déterminés”. (op. cit. p. 70)
É pela experiência das situações de privação que o eu se adapta ao mundo em que vive.
Ao recusar a evidência da realidade, o eu recorre ao sistema ilusório das formas, acreditando ser esta a realidade concreta.
De olhos fechados, tacteando a negrura do nada [conjunto potencial de imagens], é esta a senda de um eu que encontra no centro de si mesmo a fonte da sua arte, não só recorda uma identidade narcisística como também revela a complexidade da acção em processo de reconhecimento interior.
Esta íntima coexistência entre o criador e a obra, em que ambas são desmaterializadas num espaço subjectivo e imensurável, anuncia já o pós-vanguardismo da contemporaneidade.
Depois do final da 2ª Grande Guerra, o movimento de emancipação da arte americana, centraliza em si a supremacia de uma jovem nação alheia à realidade do velho continente distante e em reconstrução. Segundo William Barrett, 2 o Negro é quem, sendo mais tipicamente americano, experimenta e expressa na procura da sua identidade, as profundezas da alma americana, instável e cheia de incertezas. O sofrimento do negro em Invisible Man acaba por ser identificado com o sofrimento da própria humanidade, e com as formas de resistência criadas pelo sonho,
‘“Ellison’s heroes” are not victims but adventurers (...) They are, in short, picaresque heroes, full of “rash efforts, quixotic gestures, hopeful testings of the complexity of the known and the given”’ 3
Invisible Man é o ser no mundo, o ser que procura estratégias de existência, e calcorreia percursos de passagens iniciáticas, ultrapassando os obstáculos, a fim de concretizar o desejo de projecção e reconhecimento da sua identidade. Este ser no mundo e com o mundo, substância física e espiritual a desbravar a selva do desconhecido, primeiro no mundo exterior e depois no domínio da interioridade, vai subtraindo-se ao espaço caótico que o rodeia, pretensamente racional. Em busca dos seus próprios conceitos, IM rodeia-se simbolicamente da luz de 1369 lâmpadas, desviada de um serviço público, Monopolated Light & Power, parte integrante do mundo ordenado que prevê dentro dos seus sistemas o caos das segregações raciais, religiosas e sexuais.
Deformações especulares reflectem a ilusão do mundo e de IM, quer pela sua própria cegueira, quer pela cegueira dos outros que o fazem sentir a sua invisibilidade. Até à iluminação interior, na precariedade de uma personalidade imberbe, ele irá sobreviver a múltiplas provas de iniciação e mortes simbólicas, no acto de despertar do sonho para a realidade. Como um ponto cego à volta do qual gira o turbilhão das energias do inconsciente, o signo do invisível torna-se centro da sua subjectividade, desmaterializado pela ausência de dimensões espaciais, ele é, pela sua conotação com o ar, representado pela cor simbólica dos sonhos. Em busca de si próprio, o azul torna-se a cor de alguém que enceta a viagem à centralidade de um eu que pensa e procura a forma que engendra o saber pensar.
Esta viagem empreendida pela teia construída maquiavélicamente por mãos invisíveis, e que IM ingenuamente transporta nas cartas de apresentação, leva-o à construção de um tempo constituído no espaço emaranhado da consciência em progressão, suspenso nas malhas da história de um mundo inundado de falsidades e cinismo, prestes a refazer a história a partir da sua nudez: “ I’m shaking off the old skin.”.
<>, poderia ter dito igualmente Jim em Huck Finn, aquando da representação do papel de King Lear. Pintado de azul, Jim personifica pelo cómico a tragédia da condição humana, e a absurdidade do mundo, dividido entre os que degradam a imagem dos outros, e os que são manipulados. Bonecreiros e bonecos, jogo perverso em que o palco é o próprio mundo, onde o papel do sonhador é simultaneamente a do observador do seu próprio pesadelo, anunciado no discurso que IM fez no funeral de Tod Clifton,
“He fell in a heap like any man and his blood spilled out like any blood; red as any blood, wet as any blood and reflecting the sky and the buildings and birds and trees, or your face if you’d looked into its dulling mirror (...)”
(IM, p. 456)
Do sonho à desilusão, IM irá iniciar-se no não-corpo do esquecimento, correspondente ao nada corpóreo, aberto e por tal situado no lugar do tempo-zero, qual objecto negro a absorver através da luz, a energia e o poder dos brancos até à sua exaustão,
‘Live with your head in the lion’s mouth. I want you to overcome ‘em with yeses, undermine ‘em with grins, agree ‘em to death and destruction, let ‘em swoller you till they vomit our bust wide open.”
(IM, p. 16)
Depois destas palavras enigmáticas, a luz da chama à cabeceira do leito do avô vai extinguindo-se até à sua morte, ou seja até ao momento em que desperta para a verdade, se considerarmos a imagem da caverna de Platão.
Do confronto com a acção do mundo, vivido por IM à superfície, a fusão da natureza irreal dos sonhos com a natureza secreta do inconsciente, é realizada no âmago da sua existência, de uma forma de existência em crise que encontra na escrita um processo de reordenação do seu mundo, mas não lhe recusa as vantagens,
‘That is why I fight my battle with Monopolated Light & Power. The deeper reason, I mean: It allows me to feel my vital aliveness (...) Though invisible, I am in the great American tradition of tinkers (...) Call me, since I have a theory and a concept, a “thinker-tinker”.’
(IM, p. 7)
A primazia da existência sobre a essência, delega no homem a responsabilidade pessoal pela qual reside a sua salvação.
Privado da sua inteireza física e da sua inteireza substancial, IM ao despertar sucessivamente do sonho para a realidade, constrói, a partir das fases de transição entre os dois domínios da existência, o casulo no qual irá, através de sucessivas metamorfoses, transcender as limitações que o mundo exterior lhe impõe. Até encontrar este eu verdadeiro, e único, ele vai aprender na iconografia dos seus sonhos e alucinações, a representação da verdade para o qual não está inicialmente preparado. Estas imagens reflectem o que está escondido no inconsciente, na secreteza da essência humana, elas representam as inscrições da memória.
Através do ritual e do sonho, Invisible Man move-se nas fronteiras nebulosas das suas relações ancestrais com o eu universal. A síntese entre “I am” e “nobody”, pela afirmação e pela negação, obtida em “myself”, é o resultado directo da reavaliação interna e mental depois de ter passado da ilusão para a acção,
“I was naïve, I was looking for myself and asking everyone except myself, questions which I, and only I, could answer. It look me a long time and much painful boomeranging of my expectations to achieve a realization everyone else appears to have been born with: That I am nobody but myself. But first I had to discover that I am an invisible man.”
(IM, p. 15)
A construção de myself irá passar pela libertação do pensamento de quaisquer restrições estética ou moral, exemplar na história narrada por Trueblood. Transformado em Xamã, depois de ter quebrado o taboo do incesto, a vivacidade com que são descritos os pormenores do seu sonho, contrasta com as convenções estreitas e redutoras do ensino no College. Esta conflitualidade entre a imagem do poder associada ao bem, personificada em Mr. Norton, e a de Trueblood, verdadeiro sangue derramado sobre a terra, corresponde à fragilidade dos limites entre Ego e Id.
O sonho de Trueblood, tal como um manifesto surrealista, transforma-se em arma poderosa, ao revelar nos abismos da psique a ausência das inibições sexuais, a rejeição do julgamento moral do exterior,
‘She didn’t want me to go then – and to tell the honest – to – God truth I found out that I didn’t want to go neither (...) It’s like when a real drinkin ‘man gits drunk (...) You got holt to it and you caint let go even though you want to.”’
(IM, p. 60)
Dominando o material onírico, o negro revela a sua natureza privada de tal forma que mito e humor purificam o mal do que é interdito. O desejo compensado pela libido ao desmascarar o caos e a hipocrisia, põe em causa e desnuda as aparências da solidez moral de Mr. Norton e daquilo que ele representa: a supremacia e pureza da raça branca.
Simultaneamente, esta exposição do domínio privado enfraquece o poder dos brancos, ao recordar-lhes a ancestralidade de um passado pré-histórico comum. A sabedoria de Trueblood compara-se à do avô de IM, e à do vet.:
“Be your own father youngman. And remember, the world is possibility if only you’ll discover it. Last of all, leave the Mr. Norton’s alone, and if you don’t know what I mean, think about it.”
(IM, p. 156)
O significado destas palavras causa-lhe uma forma de atracção e repulsa, tal como as palavras do avô ou o sonho do negro incestuoso, constituindo enigma. Embora sem compreender o seu alcance, depois de se despedir do vet., aliviado pelo desconforto da sua presença, ele sente-se “sad and utterly alone”. Esta repulsa que é sentida fisicamente, aquando do discurso em battle royal, aproxima-se à estética contemporânea. A bola de sangue na boca de IM aparece associada à repressão sexual e ao jogo das palavras “responsability” – “equality”. Ainda desprovidas do objecto real, estas experiências física e moralmente dolorosas, pelas quais Invisible Man encontra as pontas soltas de um destino marcado pelo determinismo histórico, só irão ser plenamente interiorizadas, quando a sua consciência adormecida despertar do sonho urdido na ilusão da servidão de modelos e arquétipos.
O domínio da subjectividade no sonho relaciona-se com o problema do estatuto e da afirmação de identidade, cuja finalidade remete o sonhador para a clarificação da sua individualidade.
A simbologia das imagens que se sucedem na repetição dos sonhos em Invisible Man, associa-se quer pela semelhança, quer pelo contraste, ao seu passado, à pureza da cultura afro-americana e às raízes de um povo que sonha com o Éden, e que IM ao confundir com o College transmite igualmente a imagem do inferno da escravidão,
‘I allways come this far and open my eyes. The spell breakes and I try to re-see the rabbits, so tame through having never been hunted, that played in the hedges, and along the road (...) And I stand and listen beneath the high-hung moon, hearing “A nighty Fortress Is Our God”(...) And I stand in the circle where three roads converge near the statue(...) Then in my mind’s eye I see the bronze statue of the college Founder, the cold Father symbol(...) his hands outstretched in the breath taking gesture of lifting a veil that flutters in hand, mettalic folds above the face of a kneeling slave(...) What was real, what solid, what more than a pleasant, time-killing dream?”
(IM, pp.35-37)
O tempo da sua inocência, tempo da inocência no Éden, vai sendo progressivamente destruído pela castração dos seus sonhos até à castração final. Aniquilado pela máquina destrutiva do sistema do College e depois pelo sistema doutrinário da Brotherhood, IM renasce das batalhas perdidas, residindo nelas a potencialidade real da sua resistência. Partilhando a inocência perdida com o resto da humanidade, o enquadramento recessivo reenvia-o sistematicamente para o momento da criação, para o tempo em que o caos é apartado da ordem, tornando irreversível o retorno à posição inicial. As etapas do seu renascimento impedem-no de voltar a casa.
A mediação entre os tempos de momentos existenciais instáveis, é realizada na zona limítrofe onde a consciência se descobre soberana, e reconhece os estilhaços de uma identidade dividida e submissa.
Pela flexão dos espaços de resistência interiores, surgem novos padrões na personalidade de IM, tal como Kant define “cada agora, é como que abrir-se a”.
A incursão no território do privado que se relaciona com o público, realiza a experiência de um Eu a recriar o mundo, ou seja, a recriar uma América também ela perdida e dividida nas suas contradições.
Metáforas da realidade, as imagens nos sonhos de IM preparam-no para a visão, “But at that time I had no insight into this meaning”. A referência ao episódio de battle royal estabelece paralelismos entre os rapazes a lutar na arena, os palhaços do circo quando sonha com o avô, e as bonecas de tecido de papel manipuladas por Tod Clifton,
“It’s no jumping-jack, but what, I thought, seeing the doll throwing itself about with the fierce defiance of someone performing a degrading act in public, dancing as though if received a perverse pleasure from its motions.”
(IM, p. 431)
O poder destas imagens desmascara os jogos de poder e calculismo cívico de Bledsoe ou de Brother Jack, levando-o finalmente à compreensão da realidade do mundo.
Desde a primeira alucinação experimentada pelo consumo de um charro (reefer), as formas extremas do tempo são modeladas pelas percepções sensoriais, baseadas nas estruturas fundadoras da cultura afro-americana, e nas profundezas da sua cor. Só em ‘“Blackness of blackness”’, no objecto real que é simultaneamente sujeito, IM encontrará no âmbito das sensações, afectos e percepções, a sua diferença. Diferença esta que é sinónimo de afirmação de uma identidade que se manifesta através da acção, ou seja de um simulacro, de uma invisibilidade que joga com o poder da luz e da ordem, das trevas e do caos, para encontrar depois da revelação a iluminação interior, pronto para ascender depois da imersão.
Ao desbravar o território inóspito da mente, e do espírito, IM encontra no exercício da escrita a possibilidade de conciliação de dois contrários, de um sim exterior e de um não interior, de um sim saído da sombra que oculta o não, de uma forma de insubmissão à qual a própria escrita dá acesso, e pela qual a autoconsciência esboça novas formas de relação entre a vivência nos sonhos e a realidade
“Gin, Jazz and dreams were not enough. Books were not enough (...) And my mind revolved again and again to my grandfather (...) Did he mean say “yes” because he knew that the principle was greater than the man (...) Did he mean to affirm the principle, which they themselves had dreamed into being out of the chaos and darkness of the feudal past, and which they had violated and compromised to the point of absurdity even in their own corrupt minds?”
(IM, 573-574)
A função dos sonhos em Invisible Man consiste no processo de recusa da racionalidade do mundo real, contestando e constatando a opressão que qualquer sociedade cheia de contradições e absurdidades, exerce na emancipação do individuo e na expressão da sua liberdade criadora.
A simultaneidade de contrastes nos sonhos revela a impossibilidade histórica de uma cultura sem lógica e irracional. À opacidade histórica, IM opõe-se pela positiva, negando-se pela negação de um corpo substancial, reduzindo-se até à formulação conceptual da sua própria existência.
O sonho constrói igualmente espaços, ou moradas habitadas por um eu solitário, que procura no seu isolamento revisitar o passado, encontrar-se com a estabilidade de um tempo suspenso onde as lembranças visam preencher a privação ou a ausência do transcendente.
Voltar às origens, ao tempo-zero, é pretender chegar à transcendência sem mediação, é romper com uma ordem que parte do infinito para o infinito. O novo objecto de mediação entre I e Me, IM, encerra o individuo numa vitrina, transformando-o em acervo museológico, como estátua que aspira à irredutibilidade da matéria.
O reconhecimento do eu, através destes espaços de ficção em que se joga a identidade, no seguimento de experimentalismos e libertação dos instintos, qual animal errante, orienta-se pela procura solitária de si mesmo. A sensação de imobilidade, ou paralisia, é acompanhada do sentimento intenso de grandeza especial, de uma consciência que toma consciência de si mesma, na queda vertiginosa aos confins do tempo, “I seemed to exist in other dimension, utterly alone.”. as imagens vão sendo construídas nesta viagem pela escuridão de um espaço fechado onde as incertezas são geradas pela indeterminação desse mesmo espaço, que ora é inferno, ora é entrada para oa paraíso. A dispersão e condensação do eu Invisible Man, na imensidade do espaço interior, é observada relativamente à sucessão do tempo,
“Invisibility, let me explain, gives one a slightly different sense of time, you’re never quite on the beat. Sometimes you’re ahead and sometimes behind. Instead of the swift and imperceptible flowing of time stands still or from which it leaps ahead.”
(IM, p. 8)
A descida de IM ao buraco, à cave mais profunda do seu espaço interior, é o retorno ao útero materno, ao útero da terra onde as raízes da vida se ramificam à procura do leito de água, ao momento da grandeza imensurável no acto do nascimento e no acto da morte, momento de criação de si próprio,
“‘I not only entered the music but descendend, like Dante, into its depths. And beneath the swiftness of the hot tempo there was a slower tempo and a cave I entered it and looked around and heard an old woman singing a spiritual(...) I saw a beautiful girl the color of ivory pleading in a voice like my mother’s (...)’”
(IM, p. 9)
Viajar ao tempo do sonho, no qual se fixam as sensações leves de calor e conforto, associados ao passado, são enfatizadas na experiência de IM no hospital da fábrica, pelo contraste estabelecido com a percepção de um mundo externo frio,
‘when I emerged, the lights were still there. I lay beneath the slab of glass, feeling deflated. All my limbs seemed amputated. It was very warm (...) Thoughts evaded me, hiding in the vast stretch of clinical whiteness to which I seemed connected by a scale of receding grays.’
(IM, p. 238)
O despertar do sonho para a realidade, da morte para a verdade, de um estremecimento para a iluminação, consigna pela evocação de um destino liberto das restrições absurdas do mundo, a potencialidade real de transcendência de “our barriers of race and religion, class, color and region”, e a possibilidade de uma existência escondida na intimidade e infinitude de um todo cósmico e universal.
A liberdade de IM, como de qualquer sonhador, objectiva-se na dor da existência, e na existência real de uma saída do emaranhado da teia sinistra do poder. Uma saída que se apresenta entrada para um mundo de possibilidades infinitas, depois da castração física e moral, depuração profunda do espírito IM, na cegueira, tacteia a negrura do nada.
Constituindo-se dentro de um espectro, cuja amplitude tonal varia entre white e black, as imagens só podem ter origem na ilusão de uma cegueira parcial. Experimentar estas gradações até à iluminação da verdade, experimentá-las na distância entre dois pólos, pela ausência de cor, da cegueira até à visão, da paralisia até à acção, Invisible Man ao perder todas as suas ilusões, preso na sua forma, conserva a inteireza do seu pensamento, revelando a ruptura do homem com a história, com a realidade de um mundo cinzento que crê na ilusão da sua pureza branca.
Notas:
1 – Sartre, Jean-Paul, L’Imaginaire, Éditions Gallimard, 1940, p. 333
2 – Barrett, William, “Black and Blue”, in The Critical Response to Ralph Ellison, Edited by Robert J. Butler, Greenwood Press, 2000
3 – Schor, Edith, Visible Ellison: A Study of Ralph Ellison’s Fiction, Connecticut: Greenwood Press, 1993, p. 20

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